30 junho 2005

Cronosempre

Sempre,

Já que já
Não há
Mais tempo

- Sem você.

Contudo,
Saudade vem
Com tudo

Quando nada
É abrigo

Como seu colo,
Naquela manhã fria
De domingo.

Paulo Renato,
30/06/05

26 junho 2005

Aracnídeo

Aracnídeo

Teço minha teia e durmo,
Esperando o momento
De sentir o movimento
E te ver,
Presa, e presa
Entre os fios.

Com meus vários olhos,
Oito patas adiante,
Me surpreendo e,
Encantado,
Permito que vá.

- Mas já que insiste,
Fique para sempre.

Paulo Renato,
26/06/05.

Por Hora

Por Hora


Que a vida merece mais dos nossos dias,
E que a morte, o que resta deles.

Que amar é inexplicavelmente inevitável,
E que a missão única, sua busca.

Que aprender a cair é uma das melhores lições,
E que evitar a queda, o maior erro.

Que espera e paciência são frutos de treino,
E que ansiedade e fúria, de reflexo.

Que música e poesia alimentam
E regras, convenções e cartilhas, cansam.

Que discutir o óbvio é descobrir o novo,
E que aceitar imposições, estacionar no tempo.

Que o óbvio não é claro como parece ser,
E que o insolucionável, força-motriz.

Que quem fala sozinho, beija também o braço,
E que ações ridículas, de pessoas especiais.

Que viver fazendo o que se gosta é fundamental,
E que a felicidade tão simples, poucos enxergam.

Que ainda há muito o que entender,
Mas que cada vez mais,
Sedimentam-se verdades
Que me fazem verdadeiro.
Paulo Renato,
26/06/05.

22 junho 2005

A Espera

A espera pode ser monótona
Quando se espera coadjuvantemente
Como planta espera o processo vital.
O tempo é inimigo,
Vento forte sem abrigo,
E toda a cronologia de convenções
Passa a ser realmente importante.

A espera te rouba o sono
E põe na tua cabeça uma idéia desconexa,
Num "pré-sonho-conversa-de-bêbado",
Enquanto castiga o corpo
Cansado de esperar.

- Corpo e cabeça são casal que não costuma ceder.

Na espera vem a idéia
Que muda uma vida inteira.
Na espera vem pessoa,
Vem alegria,
Vem dinheiro,

Vai dinheiro...

Vem tensão, e um mil coisas
Que te atropela e ao mesmo tempo
Te faz viver.

Não reparou ainda que lutar
É alimentar o improvável?

Não se deu conta
Do movimentar inútil?

Pede alguém pra te ensinar.

E espera.

Paulo Renato,
22/06/06.

19 junho 2005

Ponto Final

.

Qual remédio,
De que planta,
Aonde encontro
Tal esperança
Que acabe
No final.

Qual final,
Que seja ponto,
Conclusivo,
Terminal,
Definido
E conduzido
Sem a casa
Decimal.

Tem coragem
De sair,
Sem aviso,
Sem preciso,
Mas apenas
Ir embora
Como não
Tivesse vindo?

Assim fosse,
Outra hora
Saberia
Que, se acaso
Não viria,
Outro alguém
Ocuparia
O teu ponto
Em meu final.

Paulo Renato,
22/05/04.

("Um laço no presente é abraço. Um laço no futuro eu desfaço.")

15 junho 2005

Remanescências do Amanhã

Do amanhã nada resta senão a paciente obra de planejar, executar e aguardar. Não como loteria, mas jogo de sorte certa. Dos jogos, o mais interessante. Jogo sem regras. O verdadeiro jogo do improviso.