29 maio 2008

Uma Fábula Qualquer

No centro da Terra,
Borbulhando na lava,
Cozinhando em segredo
O tempo que passa.

Disfarçando horrores
Sobre a incapacidade
De definir,
De concretizar.

- Mas quem disse que tudo
Tem que ter definição,
Já que o fim de cada um
É mistério da vida,
E isso nos faz
Eternamente perdidos
Em relação ao exato momento
Em que estamos posicionados
Na escala?

- A régua que não tem fim...

Concatenar histórias diversas,
Misturar os personagens,
É romper um pouco
Com a regra ridícula
De casar heróis e princesas,
De prevalecer o bem contra o mal,
De ensinar errado às crianças
Aquilo que a vida,
Inevitavelmente,
Mostrará na prática.

O lobo mau reina feliz,
Enquanto o caçador covarde
Coloca em extinção
Outros animais indefesos.

- A blusa com a etiqueta pra fora
Está do lado certo.

Do avesso,
Eis você.

Paulo Renato,
29/05/2008.



27 maio 2008

Da exposição "Imagens Faladas - Em Falta", incluída na Virada Cultural de 2005 (SESC Interlagos), com poesias de Paulo Renato César em diálogo com fotografias de Rodrigo Brambilla.

"Imagens Faladas" surgiu de um projeto cujo objetivo é a finalização de um livro com poemas baseados em fotografias e vice-versa. Dividido em temas, esse primeiro capítulo chamado "Em Falta" despertou o interesse do SESC para a Virada Cultural de 2005.


Fotografia: Rodrigo Brambilla


Pelo Cano

Entrou pelo cano
Buscando proteção
Contra o céu revolto,
Do qual nunca entendeu
A tal história de que lá
Mora Deus.

Entrou pelo cano
Pra descansar
E esquecer que
Cá fora,
Nada tem e nada espera
Pra esperar.

Entrou pelo cano
Num conforto de útero,
Na posição de feto,
Lá, o último afeto.

Em gestação eterna,
Em infusão materna,

– Surdo para o mundo.

Entrou pelo cano
Que o sorveu como líquido
E que o cuspiu embriagado,
Cheio de falsas esperanças
Da luz no fim de um túnel
Curto como cano,
E de onde nem que o queira,
Pode mais sair.




Paulo Renato,
12/08/05

Da exposição "Imagens Faladas - Em Falta", incluída na Virada Cultural de 2005 (SESC Interlagos), com poesias de Paulo Renato César em diálogo com fotografias de Rodrigo Brambilla.

"Imagens Faladas" surgiu de um projeto cujo objetivo é a finalização de um livro com poemas baseados em fotografias e vice-versa. Dividido em temas, esse primeiro capítulo chamado "Em Falta" despertou o interesse do SESC para a Virada Cultural de 2005.


Fotografia: Rodrigo Brambilla

Por Hora

Que a vida merece mais dos nossos dias,
E que a morte, o que resta deles.

Que amar é inexplicavelmente inevitável,
E que a missão única, sua busca.

Que aprender a cair é uma das melhores lições,
E que evitar a queda, o maior erro.

Que espera e paciência são fruto de treino,
E que ansiedade e fúria, de reflexo.

Que música e poesia alimentam,
E regras, convenções e cartilhas, cansam.

Que discutir o evidente é descobrir o novo,
E que aceitar imposições, estacionar no tempo.

Que o óbvio não é claro como parece ser,
E que o insolucionável, força-motriz.

Que quem fala sozinho, beija também o braço,
E que ações ridículas, de pessoas especiais.

Que viver fazendo o que se gosta é fundamental,
E que a felicidade tão simples, poucos enxergam.

Que ainda há muito o que entender,
Mas que cada vez mais,
Sedimentam-se verdades
Que me fazem verdadeiro.


Paulo Renato,
26/06/05.

26 maio 2008

Das Razões Pelas Quais eu Vim

Nessa levada,
Vim a passeio...

Vim com a sorte
Acompanhando cada piscar
Dos meus olhos
Que enxergam bem.

Vim com o poder da síntese,
E adquiri com o tempo
O grande exercício de ser prolixo,
Com um fio multicolorido
De meada.

Vim sem rima, mesmo,
Que gosto mais do disforme,
Já que definitivamente
Somos todos assimétricos.

Vim com pai e mãe
Vigiando os meus tombos
Mas permitindo-me cair,
Até que se tornasse divertida
A iminência da queda.

- E quedas são presentes.

Vim para escrever,
Vim para cantar,
Vim para ensinar
A aprender,
E aprender com tudo isso.

Vim sem um puto e sem bolso,
E não desejo muito mais
Do que sorrir todos os dias
E ser capaz de sustentar
As idéias que tenho

- Todos os dias.

Vim para amar de uma forma esquisita,
Incorrigível.

Vim para ser bom e ser mau,
Vim para a vigília da noite
E dormir só um pouco,
Apesar de tanto sonho.

Vim para te fazer companhia,
E aceitar os seus convites.

Vim para cuidar de alguém,
Alimentar,
Fazer dormir,
- Proteger.

Vim para competir e,
Antes de ir,
Quero mesmo minha medalha.

Paulo Renato,
26/05/2008.





21 maio 2008

Pares Perdidos

E Deus foi fazendo,
Um a um,
Pra depois de todos prontos,
Designar os pares.

Confuso com tanto trampo,
Pra facilitar,
Resolveu já
Fazer em pares,
Pra ganhar tempo

- E organização.

Mas o telefone tocou e,
Ajudante atrapalhado qualquer,
Mandou menino sem par,
E par que seria,
Por que seria,
Soltou pra ela,
Um outro par...

- Menino ímpar.
Paulo Renato,
21/05/2008.

20 maio 2008

Data



De todos os sonhos,
- Apenas um.

Mas sonho de mulher-verdade,
Cheio das nuances que te acompanham
Por ser mulher complexa,
Por ser sensível,
Por ser especial.

Que assim seja sempre,
Com dores,
Amores,
Cores,
E todas as flores coadjuvando
seu papel de menina especial.

Paulo Renato,
2005.

19 maio 2008

Like any one

Those who cannot breath,
Cannot say what love is,
Or even who are themselves.

Those who have fears,
- Those humans.
Paulo Renato,
2006.

13 maio 2008

“Embora a imagem formada na retina seja invertida, a mensagem levada ao cérebro passa por processos complicados, fazendo com que enxerguemos o objeto em sua posição correta”. (Física Experimental – Parte 4 – Ótica).


Retina

Cruzou a rua,
Tomou embalo,
Meio-fio vencido,
Passo a passo
Em minha direção.

Parados frente a frente,
Imagem e semelhança,
Lentes invertidas,
- E tantas verdade a serem ditas...

Quantos segredos guardo,
E quantos sei responder?

Quais as soluções perfeitas
Que desamarrariam
Todos nós?

Os nós,
Dessa e daquela garganta...

Perdões e súplicas,
Eu diante de mim,
E raciocíno.

- Irraciocínio.

Um coração de cada lado,
Me espelho.

Paulo Renato,
13/05/2008.

12 maio 2008

Socorro

Já não escrevo sobre as coisas boas da vida...
Não me tento a resolver os problemas,
E mal crio imagens que viram músicas.

Mas, desse todo,
Ao mesmo tempo renasço,
E lágrimas brotam entre meus dentes,
Bem no meio de um sorriso.

E corro,

E sinto vento,

Sinto Sol,

Sinto força,

Não desisto.

- A grua que nos alça,
E faz ver do alto,
Socorre.
Paulo Renato,
07/05/2008.

Seu Carinho

Hoje a noite está chuvosa,
E a lua de ontem, minguante,
Escondeu-se atrás de uma nuvem escura.

- E eu não vi seus olhos.

Todo o argumento necessário pra te convencer
Das coisas que adoro discutir com você,
Importantes ou não,
Está guardado aqui dentro,
E o acúmulo disso tudo,
Definitivamente não me faz bem.

Queria mesmo era te ouvir falar
Até fechar os olhos de tão cansado,
E te fazer carinho
Enquanto dormia.

Quem sabe, assim,
Não seria possível desmistificar
Essas pequenas “interferências”
Que acontecem entre nós,
Como se o carinho funcionasse como Bom Brill
Em antena de televisão.

- De fato, carinho tem muito mais utilidades...

De qualquer forma,
Por qualquer razão,
Esse carinho é seu,
Intransferível.

Venha buscar logo,
Pra que ele não me faça sentir tanto,
A ponto de querer explodir.

Um beijo.

Paulo Renato,
09/01/2002.


Amor de Mãe

Das coisas mais importantes da vida,
Muitas vêm e outras vão,
- Em vão...

Do amor inexorável que sentimos
E temos por (e de) você,
Tiramos a força necessária
Para continuarmos em pé
Nesse vai e vem turbulento
E interessante de nossos dias.


Paulo Renato,
11/05/2008.



08 maio 2008

Reflexos

Renega mesmo.

A tua origem,
Teu argumento.

Reflete no resto da sua vida
E agora o conserto
É bem mais caro
Do que você poderia pagar.

Reflete nas outras peças,
Em outras máquinas
- Também quebradas.

E cada máquina que pára,
Cada engrenagem emperrada,
É sua consciência que pesa
Ante a cabeça que não resiste
- E pende.

Mas os olhos não cerram,
E o que te domina
É o cansaço contínuo,
Os olhos vermelhos,
E nenhum descanso.

Não há tomada
Aonde enfie os dedos,
- A luz acabou.

No escuro,
Seus olhos têm a mesma cor
Do que os meus.

Só isso.
Paulo Renato,
08/05/2008 - 01.53h

06 maio 2008

Impressão

O texto volta,
Sempre esteve.

Mas todas as vezes que escrevi,
Palavras não ferraram o papel.

Soltaram-se letras,
Perderam-se em sânscritos, russos,
Idiomas inatingíveis,
Frases de bêbados.

Mas o poema,
E a sua maneira de me atingir,
Nunca se foi,
Nunca esqueci,
E,
Se agora imagem de palavras,

É por melindre infantil
De quem quer a atenção
Que o mundo não pode dar.
Paulo Renato,
06/05/2008 - 2.59h