17 setembro 2008

Fuso

As linhas do dia,
Os raios lunares.

O frio da manhã,
Rara madrugada.

Relíquia do tempo,
E meu pensamento
Todo em você.

O dia ao contrário,
Idéias paradas:

- Por que não pagam 
Pelos versos?

- Por que não prezam
Pelo avesso?

- Por onde andam,
Delatores?

- Por qual caminho,
Quantas cores?

Dois versos,
Pula linha,

E as repostas
Não são minhas.

Paulo Renato,
17/09/2008.

21 agosto 2008

Reciclagens

Só preciso de um espaço
E de uma fonte de tal cor
Que revele as palavras.

Ofereço pensamentos
Bem dispostos em poemas
Que decifram meu momento.

Eu preciso de um espaço
Não muito avantajado,
Em que caibamos nós dois juntos,
Com os corpos apertados.

Ofereço latifúndio,
Um deserto que me sobra,
Incontáveis hectares,
Solidão abandonada.

Eu preciso de um sono,
Mas preciso de um sonho
Mais preciso do que somos.

Ofereço, quando acordo,
Compromisso e novo acordo,
De fazer do velho o novo.

Paulo Renato,
21/08/2008.


15 julho 2008

É Assim

Quando minhas palavras são suas,
As minhas frases têm sentido.

Quando sinto o seu perfume,
Cinco sentidos são olfato.

Quando me movo em sua direção,
Meu caminho é sem desvios.

Quando toco o seu rosto,
Os meus dedos dançam
- Felizes.

É assim que as coisas são,
É assim que devem ser,
No passeio de mãos dadas,
E(n)cantando pela estrada.

Corrigindo o destino,
Acertando um desatino,
Agora história coerente,
Faltava mesmo era a gente.

Quando ouço sua voz,
É sempre linda a melodia.

Quando o trato é por nós,
É persuasiva minha lábia.

Quando os lábios são os seus,
O encontro é com os meus.

Quando agora com você,
Alegria em minha vida
- Transborda.

Inventando um idioma
Carregado em consoantes,
Descobrimos traduções
Pros nossos próprios corações,

Que dispensam a gramática,
Que repensam a didática,
Que inventam o tempo todo
Que fazem o dia sempre novo.

Paulo Renato,
15/07/2008.

23 junho 2008

À Noite

Olha só, meu amor...
Sem sonho a coisa não vai.

Não se vislumbra a vida,
E ela não se deslumbra com a gente.

E o que se sente na barriga,
Na hora do beijo,
Passa ao vazio de um estômago faminto.

- Sem sonho não há sono.

Olha lá um cantor...
Sem sonho, sem voz e sem mais.

Na penumbra sem guarida,
Em terra que arruina a semente.

E o que se sente na ferida, ardor violento,
Passa ao sombrio de um complexo labirinto.

- Sem sonho não há como.

Vem de uma vez buscar nossa imagem,
Antídoto do veneno de tanta bobagem.

Aparece hoje à noite na minha moldura
E completa o que falta em tão pobre pintura.

Cada nota que componho
É uma peça que reponho
Pra te ver sempre em meu sonho.
Paulo Renato,
23/06/2008.

22 junho 2008

Peço Agora

Manso,
Como gato atrás de comida.

Paciente,
Como o velho que tudo já viu.

Estratégico,
Como enxadrista do frio da Rússia.

Pacífico,
Como hindu em cima de pregos.

Organizado,
Como o japonês do auto-elétrico.

Sábio,
Como espírito já evoluído.

Influente,
Como o poder da hipnose.

Rápido,
Como lagartixa desconfiada.

Claro,
Como artigo, sujeito, verbo e adjetivo.

Transparente,
Como vitrine em loja de rico.

Repleto de amor,
Pra que todo o resto
Valha realmente a pena.
Paulo Renato,
22/06/08.

20 junho 2008

Hoje já é Amanhã

A teoria é fácil de entender:
Um dia bom, outro dia ruim.

- Na seqüência.

Daí teríamos, dos 365,
183 dias bons,
E 182 dias ruins.

Teremos mais dias bons
Do que dias ruins!

Pra que assim seja, por causa do ímpar,
É imprescindível que o primeiro dia
Seja “Dia Bom”.

Contemos então
A partir de ontem,
Porque nosso ano
Não começa em Janeiro:

- “Dia Bom”!

Mas havemos de convir,
Minha cara,
Que 182 dias ruins
São muitos
Pra gente tão boa
Como nós.

Por isso que hoje,
- Já é amanhã.

Paulo Renato,
19/06/2008.

18 junho 2008

Soneto aos Olhos da Ju

Que iluminam as cores
De corações apertados,
E põem em cena os atores
De um novo e vivo tablado.

De onde a palavra transborda
E me transforma em máquina,
Que reinventa a música,
Que todo dia me acorda.

Significam perfeitos.
Tanto o esquerdo ou o direito,
Determinam raro efeito

Quando me tocam profundo
E, na dimensão de um segundo,
Enchem de flores meu mundo.


Paulo Renato,
17/06/2008.

14 junho 2008

Do Coração

Desse é que eu não sei mesmo.
Desse nunca neguei desconhecer.
Desse que me domina
Desse que me conduz.

Coração que sente o que quer,
E que se abre,
E doa-se por inteiro,
Muito, mas muito mesmo

-Verdadeiro.

Que me fragiliza no total,
Embriaga,
Corrói...

Que me tira a fome.

Desse coração sem boca,
Que não me ajuda nas respostas.


Paulo Renato,
14/06/2008.



Da emoção

“Traduz pra mim, então.”
“ Me ajuda.”
“Eu não sei nada disso.”
“Não consigo fazer sozinho.”

- Essas frases que eu deveria ter dito.

Que agora me faltam.


Paulo Renato,
14/06/2008.

11 junho 2008

Lacrimal 2

Separados pelo instante
De um momento natural
Sem lidar com movimento,
Sofrer já não faz tão mal.

Impreterível dor,
Ninguém nunca te contou?
Desconhece o possível
De um adeus que não faz mal.

Seja então como for,
Pelo canal lacrimal
Sorverá o teu sustento,
Outra imagem mais real.
Paulo Renato,
06/2007

04 junho 2008



Abrigo

Faz de mim um Sol.
Seca o temporal.

Amarra a tristeza e dá linha até o final.
Recolhe as angústias ao seu redor.

Pede em oração
Para um Deus vilão,
Que não te castigue pelo que cumpriu,
Que tire da folha marcada o mês de abril.

- Mas seus olhos mudam de cor,
E essa estrada alivia a dor.

Toma a minha mão
Pela sensação.

Me parece mais fácil lidar com essa pressão...

Eu te tampo os ouvidos
Que ouvem zunidos
Do coração.

-Dorme, meu amor,
O sonho acabou...

Paulo Renato,
31/05/2008.

03 junho 2008

Para Gostar de Ler

Maldita cartilha.
Não consigo rasgá-la,
Não consigo esquecê-la
Por completo.

Regrifica a função do meu ser,
Me toma o tempo de esquecer,
Me avisa que o impulso que sou
É o perigo onde vôo.

Cartilha toda errada,
Ultrapassada,
Que esconde o crédito,
O nome do responsável
Por tanto lixo
Transformado em lições.

- E ninguém ousa quebrar esse cartel.

Fácil dizer o que pode,
O que não deve,
O que é certo
Ou ético.

Mas quem previu
Que de tantos letrados,
Nasceria o meu coração

Analfabeto completo.

-Êta...

Paulo Renato,
03/06/20068.

02 junho 2008

A Vendedora de Doces

Doce que vende doce,
Doce que vem de doce,

-Doce que vem docê.

Paulo Renato,
02/06/2008.

29 maio 2008

Uma Fábula Qualquer

No centro da Terra,
Borbulhando na lava,
Cozinhando em segredo
O tempo que passa.

Disfarçando horrores
Sobre a incapacidade
De definir,
De concretizar.

- Mas quem disse que tudo
Tem que ter definição,
Já que o fim de cada um
É mistério da vida,
E isso nos faz
Eternamente perdidos
Em relação ao exato momento
Em que estamos posicionados
Na escala?

- A régua que não tem fim...

Concatenar histórias diversas,
Misturar os personagens,
É romper um pouco
Com a regra ridícula
De casar heróis e princesas,
De prevalecer o bem contra o mal,
De ensinar errado às crianças
Aquilo que a vida,
Inevitavelmente,
Mostrará na prática.

O lobo mau reina feliz,
Enquanto o caçador covarde
Coloca em extinção
Outros animais indefesos.

- A blusa com a etiqueta pra fora
Está do lado certo.

Do avesso,
Eis você.

Paulo Renato,
29/05/2008.



27 maio 2008

Da exposição "Imagens Faladas - Em Falta", incluída na Virada Cultural de 2005 (SESC Interlagos), com poesias de Paulo Renato César em diálogo com fotografias de Rodrigo Brambilla.

"Imagens Faladas" surgiu de um projeto cujo objetivo é a finalização de um livro com poemas baseados em fotografias e vice-versa. Dividido em temas, esse primeiro capítulo chamado "Em Falta" despertou o interesse do SESC para a Virada Cultural de 2005.


Fotografia: Rodrigo Brambilla


Pelo Cano

Entrou pelo cano
Buscando proteção
Contra o céu revolto,
Do qual nunca entendeu
A tal história de que lá
Mora Deus.

Entrou pelo cano
Pra descansar
E esquecer que
Cá fora,
Nada tem e nada espera
Pra esperar.

Entrou pelo cano
Num conforto de útero,
Na posição de feto,
Lá, o último afeto.

Em gestação eterna,
Em infusão materna,

– Surdo para o mundo.

Entrou pelo cano
Que o sorveu como líquido
E que o cuspiu embriagado,
Cheio de falsas esperanças
Da luz no fim de um túnel
Curto como cano,
E de onde nem que o queira,
Pode mais sair.




Paulo Renato,
12/08/05

Da exposição "Imagens Faladas - Em Falta", incluída na Virada Cultural de 2005 (SESC Interlagos), com poesias de Paulo Renato César em diálogo com fotografias de Rodrigo Brambilla.

"Imagens Faladas" surgiu de um projeto cujo objetivo é a finalização de um livro com poemas baseados em fotografias e vice-versa. Dividido em temas, esse primeiro capítulo chamado "Em Falta" despertou o interesse do SESC para a Virada Cultural de 2005.


Fotografia: Rodrigo Brambilla

Por Hora

Que a vida merece mais dos nossos dias,
E que a morte, o que resta deles.

Que amar é inexplicavelmente inevitável,
E que a missão única, sua busca.

Que aprender a cair é uma das melhores lições,
E que evitar a queda, o maior erro.

Que espera e paciência são fruto de treino,
E que ansiedade e fúria, de reflexo.

Que música e poesia alimentam,
E regras, convenções e cartilhas, cansam.

Que discutir o evidente é descobrir o novo,
E que aceitar imposições, estacionar no tempo.

Que o óbvio não é claro como parece ser,
E que o insolucionável, força-motriz.

Que quem fala sozinho, beija também o braço,
E que ações ridículas, de pessoas especiais.

Que viver fazendo o que se gosta é fundamental,
E que a felicidade tão simples, poucos enxergam.

Que ainda há muito o que entender,
Mas que cada vez mais,
Sedimentam-se verdades
Que me fazem verdadeiro.


Paulo Renato,
26/06/05.

26 maio 2008

Das Razões Pelas Quais eu Vim

Nessa levada,
Vim a passeio...

Vim com a sorte
Acompanhando cada piscar
Dos meus olhos
Que enxergam bem.

Vim com o poder da síntese,
E adquiri com o tempo
O grande exercício de ser prolixo,
Com um fio multicolorido
De meada.

Vim sem rima, mesmo,
Que gosto mais do disforme,
Já que definitivamente
Somos todos assimétricos.

Vim com pai e mãe
Vigiando os meus tombos
Mas permitindo-me cair,
Até que se tornasse divertida
A iminência da queda.

- E quedas são presentes.

Vim para escrever,
Vim para cantar,
Vim para ensinar
A aprender,
E aprender com tudo isso.

Vim sem um puto e sem bolso,
E não desejo muito mais
Do que sorrir todos os dias
E ser capaz de sustentar
As idéias que tenho

- Todos os dias.

Vim para amar de uma forma esquisita,
Incorrigível.

Vim para ser bom e ser mau,
Vim para a vigília da noite
E dormir só um pouco,
Apesar de tanto sonho.

Vim para te fazer companhia,
E aceitar os seus convites.

Vim para cuidar de alguém,
Alimentar,
Fazer dormir,
- Proteger.

Vim para competir e,
Antes de ir,
Quero mesmo minha medalha.

Paulo Renato,
26/05/2008.





21 maio 2008

Pares Perdidos

E Deus foi fazendo,
Um a um,
Pra depois de todos prontos,
Designar os pares.

Confuso com tanto trampo,
Pra facilitar,
Resolveu já
Fazer em pares,
Pra ganhar tempo

- E organização.

Mas o telefone tocou e,
Ajudante atrapalhado qualquer,
Mandou menino sem par,
E par que seria,
Por que seria,
Soltou pra ela,
Um outro par...

- Menino ímpar.
Paulo Renato,
21/05/2008.

20 maio 2008

Data



De todos os sonhos,
- Apenas um.

Mas sonho de mulher-verdade,
Cheio das nuances que te acompanham
Por ser mulher complexa,
Por ser sensível,
Por ser especial.

Que assim seja sempre,
Com dores,
Amores,
Cores,
E todas as flores coadjuvando
seu papel de menina especial.

Paulo Renato,
2005.

19 maio 2008

Like any one

Those who cannot breath,
Cannot say what love is,
Or even who are themselves.

Those who have fears,
- Those humans.
Paulo Renato,
2006.

13 maio 2008

“Embora a imagem formada na retina seja invertida, a mensagem levada ao cérebro passa por processos complicados, fazendo com que enxerguemos o objeto em sua posição correta”. (Física Experimental – Parte 4 – Ótica).


Retina

Cruzou a rua,
Tomou embalo,
Meio-fio vencido,
Passo a passo
Em minha direção.

Parados frente a frente,
Imagem e semelhança,
Lentes invertidas,
- E tantas verdade a serem ditas...

Quantos segredos guardo,
E quantos sei responder?

Quais as soluções perfeitas
Que desamarrariam
Todos nós?

Os nós,
Dessa e daquela garganta...

Perdões e súplicas,
Eu diante de mim,
E raciocíno.

- Irraciocínio.

Um coração de cada lado,
Me espelho.

Paulo Renato,
13/05/2008.

12 maio 2008

Socorro

Já não escrevo sobre as coisas boas da vida...
Não me tento a resolver os problemas,
E mal crio imagens que viram músicas.

Mas, desse todo,
Ao mesmo tempo renasço,
E lágrimas brotam entre meus dentes,
Bem no meio de um sorriso.

E corro,

E sinto vento,

Sinto Sol,

Sinto força,

Não desisto.

- A grua que nos alça,
E faz ver do alto,
Socorre.
Paulo Renato,
07/05/2008.

Seu Carinho

Hoje a noite está chuvosa,
E a lua de ontem, minguante,
Escondeu-se atrás de uma nuvem escura.

- E eu não vi seus olhos.

Todo o argumento necessário pra te convencer
Das coisas que adoro discutir com você,
Importantes ou não,
Está guardado aqui dentro,
E o acúmulo disso tudo,
Definitivamente não me faz bem.

Queria mesmo era te ouvir falar
Até fechar os olhos de tão cansado,
E te fazer carinho
Enquanto dormia.

Quem sabe, assim,
Não seria possível desmistificar
Essas pequenas “interferências”
Que acontecem entre nós,
Como se o carinho funcionasse como Bom Brill
Em antena de televisão.

- De fato, carinho tem muito mais utilidades...

De qualquer forma,
Por qualquer razão,
Esse carinho é seu,
Intransferível.

Venha buscar logo,
Pra que ele não me faça sentir tanto,
A ponto de querer explodir.

Um beijo.

Paulo Renato,
09/01/2002.


Amor de Mãe

Das coisas mais importantes da vida,
Muitas vêm e outras vão,
- Em vão...

Do amor inexorável que sentimos
E temos por (e de) você,
Tiramos a força necessária
Para continuarmos em pé
Nesse vai e vem turbulento
E interessante de nossos dias.


Paulo Renato,
11/05/2008.



08 maio 2008

Reflexos

Renega mesmo.

A tua origem,
Teu argumento.

Reflete no resto da sua vida
E agora o conserto
É bem mais caro
Do que você poderia pagar.

Reflete nas outras peças,
Em outras máquinas
- Também quebradas.

E cada máquina que pára,
Cada engrenagem emperrada,
É sua consciência que pesa
Ante a cabeça que não resiste
- E pende.

Mas os olhos não cerram,
E o que te domina
É o cansaço contínuo,
Os olhos vermelhos,
E nenhum descanso.

Não há tomada
Aonde enfie os dedos,
- A luz acabou.

No escuro,
Seus olhos têm a mesma cor
Do que os meus.

Só isso.
Paulo Renato,
08/05/2008 - 01.53h

06 maio 2008

Impressão

O texto volta,
Sempre esteve.

Mas todas as vezes que escrevi,
Palavras não ferraram o papel.

Soltaram-se letras,
Perderam-se em sânscritos, russos,
Idiomas inatingíveis,
Frases de bêbados.

Mas o poema,
E a sua maneira de me atingir,
Nunca se foi,
Nunca esqueci,
E,
Se agora imagem de palavras,

É por melindre infantil
De quem quer a atenção
Que o mundo não pode dar.
Paulo Renato,
06/05/2008 - 2.59h