23 junho 2008

À Noite

Olha só, meu amor...
Sem sonho a coisa não vai.

Não se vislumbra a vida,
E ela não se deslumbra com a gente.

E o que se sente na barriga,
Na hora do beijo,
Passa ao vazio de um estômago faminto.

- Sem sonho não há sono.

Olha lá um cantor...
Sem sonho, sem voz e sem mais.

Na penumbra sem guarida,
Em terra que arruina a semente.

E o que se sente na ferida, ardor violento,
Passa ao sombrio de um complexo labirinto.

- Sem sonho não há como.

Vem de uma vez buscar nossa imagem,
Antídoto do veneno de tanta bobagem.

Aparece hoje à noite na minha moldura
E completa o que falta em tão pobre pintura.

Cada nota que componho
É uma peça que reponho
Pra te ver sempre em meu sonho.
Paulo Renato,
23/06/2008.

22 junho 2008

Peço Agora

Manso,
Como gato atrás de comida.

Paciente,
Como o velho que tudo já viu.

Estratégico,
Como enxadrista do frio da Rússia.

Pacífico,
Como hindu em cima de pregos.

Organizado,
Como o japonês do auto-elétrico.

Sábio,
Como espírito já evoluído.

Influente,
Como o poder da hipnose.

Rápido,
Como lagartixa desconfiada.

Claro,
Como artigo, sujeito, verbo e adjetivo.

Transparente,
Como vitrine em loja de rico.

Repleto de amor,
Pra que todo o resto
Valha realmente a pena.
Paulo Renato,
22/06/08.

20 junho 2008

Hoje já é Amanhã

A teoria é fácil de entender:
Um dia bom, outro dia ruim.

- Na seqüência.

Daí teríamos, dos 365,
183 dias bons,
E 182 dias ruins.

Teremos mais dias bons
Do que dias ruins!

Pra que assim seja, por causa do ímpar,
É imprescindível que o primeiro dia
Seja “Dia Bom”.

Contemos então
A partir de ontem,
Porque nosso ano
Não começa em Janeiro:

- “Dia Bom”!

Mas havemos de convir,
Minha cara,
Que 182 dias ruins
São muitos
Pra gente tão boa
Como nós.

Por isso que hoje,
- Já é amanhã.

Paulo Renato,
19/06/2008.

18 junho 2008

Soneto aos Olhos da Ju

Que iluminam as cores
De corações apertados,
E põem em cena os atores
De um novo e vivo tablado.

De onde a palavra transborda
E me transforma em máquina,
Que reinventa a música,
Que todo dia me acorda.

Significam perfeitos.
Tanto o esquerdo ou o direito,
Determinam raro efeito

Quando me tocam profundo
E, na dimensão de um segundo,
Enchem de flores meu mundo.


Paulo Renato,
17/06/2008.

14 junho 2008

Do Coração

Desse é que eu não sei mesmo.
Desse nunca neguei desconhecer.
Desse que me domina
Desse que me conduz.

Coração que sente o que quer,
E que se abre,
E doa-se por inteiro,
Muito, mas muito mesmo

-Verdadeiro.

Que me fragiliza no total,
Embriaga,
Corrói...

Que me tira a fome.

Desse coração sem boca,
Que não me ajuda nas respostas.


Paulo Renato,
14/06/2008.



Da emoção

“Traduz pra mim, então.”
“ Me ajuda.”
“Eu não sei nada disso.”
“Não consigo fazer sozinho.”

- Essas frases que eu deveria ter dito.

Que agora me faltam.


Paulo Renato,
14/06/2008.

11 junho 2008

Lacrimal 2

Separados pelo instante
De um momento natural
Sem lidar com movimento,
Sofrer já não faz tão mal.

Impreterível dor,
Ninguém nunca te contou?
Desconhece o possível
De um adeus que não faz mal.

Seja então como for,
Pelo canal lacrimal
Sorverá o teu sustento,
Outra imagem mais real.
Paulo Renato,
06/2007

04 junho 2008



Abrigo

Faz de mim um Sol.
Seca o temporal.

Amarra a tristeza e dá linha até o final.
Recolhe as angústias ao seu redor.

Pede em oração
Para um Deus vilão,
Que não te castigue pelo que cumpriu,
Que tire da folha marcada o mês de abril.

- Mas seus olhos mudam de cor,
E essa estrada alivia a dor.

Toma a minha mão
Pela sensação.

Me parece mais fácil lidar com essa pressão...

Eu te tampo os ouvidos
Que ouvem zunidos
Do coração.

-Dorme, meu amor,
O sonho acabou...

Paulo Renato,
31/05/2008.

03 junho 2008

Para Gostar de Ler

Maldita cartilha.
Não consigo rasgá-la,
Não consigo esquecê-la
Por completo.

Regrifica a função do meu ser,
Me toma o tempo de esquecer,
Me avisa que o impulso que sou
É o perigo onde vôo.

Cartilha toda errada,
Ultrapassada,
Que esconde o crédito,
O nome do responsável
Por tanto lixo
Transformado em lições.

- E ninguém ousa quebrar esse cartel.

Fácil dizer o que pode,
O que não deve,
O que é certo
Ou ético.

Mas quem previu
Que de tantos letrados,
Nasceria o meu coração

Analfabeto completo.

-Êta...

Paulo Renato,
03/06/20068.

02 junho 2008

A Vendedora de Doces

Doce que vende doce,
Doce que vem de doce,

-Doce que vem docê.

Paulo Renato,
02/06/2008.